Novo capítulo da franquia Invocação do Mal, A Freira 2 é maior, mais violento e mais vazio
A franquia Invocação do Mal começa com um dos melhores filmes de terror da última década.
Há uma história consistente, uma direção que sabe qual caminho seguir e a construção de um universo promissor.
Com o primeiro filme, de 2013, a Warner caminhava para estabelecer uma franquia de terror sólida nos cinemas. E eles conseguiram.
Apesar da qualidade oscilar entre as produções, é certo que após o 9º filme, chegando ao 10º em 2023, a franquia está estabelecida.
Mas o problema aqui é, justamente, a qualidade dessa história – e o quanto ela tem se tornado cansativa para quem assiste.
A Freira 2 (2023) é a continuação direta do longa de 2018, spin off da franquia que conta a história de Valak (Bonnie Aarons), personagem presente em Invocação do Mal 2 (2016).
Aqui, a entidade demoníaca que rende bons sustos no filme principal, acaba se tornando um recurso vazio para o horror. Quanto mais presente, menos assustadora – show, don’t tell.
A história de A Freira 2 se passa na França, em 1956, quatro anos após os eventos do primeiro filme, e aqui, quando um padre é assassinado, parece que o mal está se espalhando por toda a região.
O Vaticano, compelido pelos feitos da Irmã Irene (Taissa Farmiga) na Romênia, decide enviá-la para combater essa força demoníaca.
Se no primeiro filme temos a transformação de Irene de noviça para freira, neste novo capítulo a vemos consolidada na função, mas ainda relutante com o seu passado e tudo o que enfrentou em seu primeiro embate com a entidade demoníaca Valak.
Compreendemos, desde o começo, que os feitos da jovem freira se tornaram uma lenda, mas em uma história que não se refere à ela. Irene, então, é só mais uma devota, que segue dia após dia em um convento, enclausurada.
Temos o retorno de Maurice (Jonas Bloquet), como faz tudo/ mão de obra disponível, agora em um internato para garotas, onde conhece a professora Kate (Anna Popplewell) e sua filha, a jovem Sophie (Katelyn Rose Downey).
Através das interações entre Sophie e as crianças do internato, a história se desenvolve e temos as primeiras aparições de Valak. A garota rouba a cena – e o protagonismo, sendo um dos acertos do filme.
A protagonista, Irmã Irene, interpretada por Taissa Farmiga, também é um dos destaques do filmes, por suas expressões genuínas e o desespero em seu olhar diante da presença da entidade demoníaca e do cenário que está ao seu redor.
A violência e as cenas mais gráficas também estão presentes, e somados aos usos dos jumpscares em momentos pontuais, o filme tinha tudo para entregar uma história que te deixa aflito.
O grande problema é que isso não se sustenta ao longo das quase 2h de duração, que superam os 90 minutos de seu antecessor.
DIREÇÃO QUESTIONÁVEL
A direção do Michael Chaves, responsável pelo divisivo Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021), e pelo péssimo A Maldição da Chorona (2019) é questionável.
Se o caminho estabelecido por James Wan é o modelo a seguir, isso não pode ser feito de qualquer jeito, nem replicado como uma fórmula mágica, já que a direção não é dele.
Em Invocação do Mal 3, Chaves tentou se distanciar de Wan, criando um filme que destoa da franquia, parecendo um episódio de uma série de true crime.
Já em Chorona, o diretor tentou imitar o cineasta malasiano, repetindo as mesmas técnicas. Em seu terceiro trabalho na franquia, Chaves continua na linha da cópia.
A Freira 2 é um compilado de técnicas presentes nos filmes anteriores da franquia, como planos-sequência para apresentar o ambiente e acompanhar os personagens, como na cena da jovem Sophie saindo do completo breu, ameaças vindo de várias direções e os já citados jumpscares em momentos pontuais.
Esse é o grande problema da franquia.
Todos querem ser James Wan, em uma linha produtiva desenfreada, com um lançamento, em média, a cada dois anos.
De 2013 pra cá, já são dez produções desse universo, todos com a mesma estrutura repetida, sem qualquer inovação, tornando-a cansativa para o espectador.
Isso fica ainda pior quando o desenvolvimento dos personagens é feito de forma rasa e superficial.
A partir desse momento, o texto contém detalhes significativos da trama de A Freira 2. Se você ainda não assistiu ao filme, leia por sua conta e risco.
ALERTA DE SPOILERS
A história é dividida em dois núcleos, onde vemos a Irmã Irene em sua jornada rumo ao internato na França, ao lado da jovem Irmã Debra (Storm Reid), que não oferece muito mais do que um discurso motivacional sobre ter fé e servir como suporte para facilidades do roteiro – como conseguir um quarto sem grandes esforços, ou ficar de posse de um rosário que lhe foi entregue de uma hora pra outra.
Já o segundo núcleo é composto por Maurice, Kate e Sophie. E, enquanto o filme perde tempo tentando construir uma relação entre Maurice e Kate, que nunca se consolida, a justificativa para as ações de Valak se resolvem com uma linha de diálogo, de um padre especialista que surge do mais absoluto nada.
O roteiro de A Freira 2, assinado por Ian B. Goldberg, Richard Naing e Akela Cooper é um dos maiores problemas do filme, já que existem diversas pontas soltas e falta de ritmo narrativo.
FUTURO
É preciso ter fé e acreditar, como diria a Irmã Debra. Mas até para isso, a história tem que ser consistente. E A Freira 2 derrapa nisso.
O filme deve agradar aos fãs da franquia, sendo um sucesso de bilheteria ao redor do mundo, garantindo a continuação da saga pela Warner Bros.
A obra original, Invocação do Mal, já está com o quarto capítulo anunciado, mas ainda sem previsão de lançamento.
A Freira 2 estreia nos cinemas nacionais nesta quinta-feira, 07 de setembro.
FICHA TÉCNICA
A Freira 2
Título Original: The Nun 2
Direção: Michael Chaves
Roteiro: Ian B. Goldberg, Richard Naing e Akela Cooper
Estrelando: Taissa Farmiga, Katelyn Rose Downey, Anna Popplewell, Bonnie Aarons, Jonas Bloquet e outros.
Estreia nacional: 07 de setembro de 2023
Nota: 5/10
Equipe Canal In
Repórter: Marco Dias
Editor: Ricardo Henrique
Foto: divulgação