Cinema

Resenha IN de Hypnotic – Ameaça Invisível 

Filme se perde entre linhas narrativas ao tentar criar uma história única, porém sem originalidade 

A hipnose parece ser um daqueles fenômenos psicológicos em que você, simplesmente, não acredita que deveria funcionar, mas eventualmente, ela funciona. 

Entrar em estado hipnótico, concentrando-se atentamente e ouvindo uma sugestão é o suficiente para que muitas pessoas tornem uma sugestão em realidade. E por mais que diversas evidências comprovem que a hipnose é eficaz no tratamento de doenças, o seu uso também pode ser desvirtuado.

Práticas como a hipnose existem em muitas culturas espalhadas pelo mundo há séculos, mas desde o começo, enquanto médicos exploravam os fins terapêuticos da prática, ela também era associada ao mundo do showbusiness. 

Em ‘Hypnotic – Ameaça Invisível’, novo filme do diretor Robert Rodriguez (conhecido por Sin City, Machete, Um Drink no Inferno e outros), a hipnose é utilizada como um superpoder. 

Os indivíduos chamados de ‘hipnóticos’ são seres com habilidades psíquicas capazes de induzir outras pessoas a seguirem suas sugestões. Então, de acordo com o filme, se um hipnótico diz que está ‘quente’, o indivíduo acredita que está quente. 

É como se os hipnóticos pudessem plantar uma ideia no subconsciente de suas vítimas, como se entrassem numa camada profunda da mente. Só que essa trama é muito similar à uma outra história muito popular na cultura, concorda? 

Se você pensou em ‘A Origem (2010)’, acertou. 

Sabe aquele meme do ‘pode copiar, só não faz igual?’. Parece que o diretor Robert Rodriguez quis seguir à risca essa história, mas não entregou com a mesma qualidade do seu referencial. Se Christopher Nolan copiou Satoshi Kon, chegou a hora de ser copiado pelo cineasta norte-americano. 

Em Hypnotic, acompanhamos o detetive Danny Rourke (Ben Affleck), que se envolve na investigação de um caso complexo envolvendo uma série de roubos em larga escala, todos induzidos por um hipnótico super poderoso, o Dellrayne (William Fichtner). 

Desde o começo, o filme nos apresenta um protagonista atormentado pela culpa de ter perdido a filha, supostamente sequestrada. Rourke, como todo pai envolto em tragédia, se agarra na primeira oportunidade que tem para recuperar a família. 

“Sabiamente”, o roteiro trata de relacionar a investigação do caso com o desaparecimento da filha do detetive. E, como se não bastasse essa relação “inteligente”, Rourke ainda descobre que há um misterioso programa do governo que, assim como sua descendente, pode ter algo a ver com a conspiração. 

Toda essa esquizofrenia narrativa funciona pela rapidez em que a trama avança. Com uma duração de 01h30min, o filme consegue transformar a confusão do protagonista em senso de paranoia, onde você realmente se pergunta se o que está em exibição é real ou não. Se os hipnóticos têm o poder de “criar ilusões”, então duvidar da sua realidade é um caminho aceitável. 

Rourke, junto com o filme, porém, se perdem em suas reviravoltas. 

E a primeira delas entra, justamente, com Diana Cruz, a personagem da brasileira Alice Braga

A PARTIR DAQUI EXISTEM SPOILERS SIGNIFICATIVOS SOBRE A TRAMA DE HYPNOTIC

Quando somos apresentados ao drama familiar de Rourke, a primeira coisa que pensamos é: cadê a mãe dessa menina? 

Essa é uma das lacunas que o filme carrega até o limite, e complementa à medida em que Rourke descobre que sua ex-esposa, Viv (Kelly Frye), não é quem diz ser. 

À princípio, ela seria uma agente do governo, que escondeu a identidade do marido para proteger sua profissão. Contudo, com o “desaparecimento” da filha, a relação entre os dois ruiu completamente. 

Ainda assim, essa construção não faz sentido e, consciente disso, o filme consegue piorá-la, embaralhando tudo ao revelar que, na verdade, a esposa de Rourke é Diana Cruz (Alice Braga), uma hipnótica poderosa. 

E tudo isso é explicado como um estado de hipnose constante ao qual Rourke é submetido para revelar o paradeiro da própria filha, já que ele seria o responsável pelo sumiço da jovem. 

E como Rourke fez isso? Bom, ele também é um hipnótico. Então, casado com Diana, a filha de dois hipnóticos é vista como uma arma com potencial de destruição em massa, e tudo o que o casal quer é impedir que ela caia nas mãos do governo. 

Inconsistente, nem um pouco inovador, sem características marcantes ou inesquecíveis, Hypnotic – Ameaça Invisível deveria levar mais a sério o seu título nacional, se tornando um filme que ninguém deveria assistir. 

O filme possui uma ação genérica, com um suspense que não te mantém motivado justamente por sua tentativa de complexidade que não resulta em nada. Se a história sugere uma ameaça, ela rapidamente a destrói com uma narrativa que existe muita suspensão de descrença. 

Nesse caos, de transformar um filme em duas histórias após a reviravolta na revelação da mulher do detetive Rourke, a atuação do Ben Affleck fica consistente apenas na primeira metade. Como alguém perdido, que não sabe o seu propósito, nem consegue distinguir o que é real e o que é sonho, o personagem funciona. Mas, quando ele precisa assumir o papel de “antagonista” ou de “vigilante”, a habilidade já não é a mesma. 

Alice Braga, por sua vez, entrega mais do mesmo de qualquer uma de suas atuações em Hollywood. Genérica, sem nada de marcante e inesquecível. 

Hypnotic, porém, é honesto. Entrega um filme que traz ação, suspense e uma trama genérica em 90 minutos de duração. Passa tão rápido que a confusão logo vai embora. 

Hypnotic – Ameaça Invisível estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (26). 

Ficha Técnica: 

Hypnotic – Ameaça Invisível

Título Original: Hypnotic 

Duração: 01h30min

Gênero: Suspense/Ação

Direção: Robert Rodriguez 

Roteiro: Max Borenstein e Robert Rodriguez 

Elenco: Ben Affleck, Alice Braga, William Fichtner e outros 

Estreia nacional: 26 de outubro de 2023 



Equipe Canal In

Repórter: Marco Dias

Editor: Ricardo Henrique

Foto: divulgação

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