Relações familiares conturbadas são um caminho propício para o desenvolvimento de traumas na infância. Seja por superproteção ou por negligência, o ambiente familiar influencia no desenvolvimento das crianças e isso repercute ao longo da vida adulta.
Trauma infantil é o tema central de Toc Toc Toc: Ecos do Além (no original, Cobweb), que conta a história de Peter (Woody Norman), um menino tímido e retraído que escuta vozes em seu quarto.
Seus pais, Mark (Antony Starr) e Carol (Lizzy Caplan), sempre o desacreditaram, dizendo que tudo não passava de fruto da sua imaginação férti. Tudo muda quando Peter descobre que as vozes são reais, e começa a desconfiar que os pais escondem algum segredo.
A direção é do Samuel Bodin, responsável pela série de terror Marianne, da Netflix. Aqui, o diretor se vale da potência vilanesca do Antony Starr, o Capitão Pátria, em The Boys, para criar um personagem unidimensional, que parece uma real ameaça para a criança, mas que não consegue entregar nada mais do que esse traço assustador.
Essa característica funciona no Starr, mas quando é replicada para a personagem da Lizzy Caplan, uma mãe que demonstra zero interesse pelo filho. Não vemos o mesmo brilho da atriz que entrega papéis brilhantes em Masters of Sex (HBO) e A Nova Vida de Toby (Star+).
É clara a intenção do roteiro em evidenciar que os pais escondem algum segredo do filho, único personagem com quem o espectador consegue se relacionar. Nesse momento, surge a professora Devine (Cleopatra Coleman), única adulta que se importa com Peter, gerando ainda mais incômodo pela negligência parental.
Diante da superficialidade dos genitores, Peter abre caminho com seus dramas escolares e a sua dificuldade em se relacionar com os outros, encontrando na voz que sai das paredes do seu quarto uma espécie de conforto.
Recheado de clichês, como casa macabra com escada, porão assustador, criança amaldiçoada e muita escuridão, nada disso incomoda tanto quanto os efeitos visuais (CGI) utilizados nos momentos cruciais da trama.
ALERTA DE SPOILER
O desenvolvimento da história é pautado na possibilidade da voz que sai do quarto de Peter ser a sua irmã mais velha. O filme constrói essa narrativa gradualmente, quando o menino vai ficando mais à vontade com a sua suposta irmã.
Diante da confiança, ela convence o menino de que seus pais são pessoas ruins, que a mantém presa no quarto deles e que assassinaram uma garotinha que desapareceu no último Halloween.
Essa trama até prende a atenção do espectador, que fica curioso para saber qual será o desfecho da história, já que Peter mata os pais quando se deixa convencer pela irmã de que isso seria o melhor para os dois.
Só que na hora de revelar quem é a assombração que finge ser a irmã do Peter, a história derrapa, principalmente nos efeitos visuais. A entidade, que se comporta como uma aranha, possui uma fisionomia que lembra a da Momo, a lenda urbana que aterrorizou a internet após viralizar em 2018.
Isso afasta o espectador do terror que se construía na base do “e agora?”, já que a revelação pobre em efeitos não entrega resultados efetivos.
A história do filme é inspirada no conto O Coração Delator (The Tell Tale Heart), do escritor de terror Edgar Allan Poe. Só que Toc Toc Toc: Ecos do Além não honra a trama original, seguindo por um caminho completamente diferente, tendo apenas na relação disfuncional de Peter com seus pais uma similaridade.
Prefira a história original.
Ficha Técnica:
Toc Toc Toc: Ecos do Além (2023)
Título Original: Cobweb
Direção: Samuel Bodin
Gênero: Terror
Duração: 88 minutos
Estrelando: Antony Starr, Lizzy Caplan, Woody Norman, Cleopatra Coleman e outros
Estreia Nacional: 31 de agosto de 2023
Sinopse: A história segue um menino cujos pais sempre lhe disseram que as vozes que ele ouve nas paredes de sua casa são apenas da sua imaginação. Mas quando ele descobre que os sons são realmente reais, fica a suspeitar que os pais estão a ocultar um terrível segredo e inicia uma busca enervante para descobrir a verdade.
Equipe Canal In
Repórter: Marco Dias
Editor: Ricardo Henrique
Fotos divulgação